É, foi mais um dia, dos vários dentro de mim que tem seguido sem fazer o menor sentido. Hoje a experiência foi a de tentar isolar tudo de sufocante e grave que pudesse ficar entranhado em minha alma. Eu pensei nela, como devo pensar sempre, mas a joguei para uma esquina nova, com tendências novas, onde só eu e a minha voz interior sabemos. 
Queria provar toda aquela sensação, mas fato que enquanto eu estiver envolvida, não estarei pronta para saborear nada que não possa caber dentro de mim. Eu descansei e permaneci cansada, pois ainda acordei com a obrigação de continuar vivendo aqui e esse fardo pesa demais às vezes. Tudo bem, muitos se vão querendo ficar, mas a permanência é fatigante. 
Lembro-me de tudo, contando mais ou menos assim:
- Era uma vez uma menina que não conseguia voar, pois ela não conseguia superar e nem esquecer o seu medo de altura. Todos tentavam convencer aquela menina a voar, pois ela tinha asas belas, enormes e todos de certa forma a invejavam por isso. Mas a menina, meio anjo, meio humana, ainda não se sentia preparada, pois seu medo não era apenas o de cair, mas sim de não se erguer mais. Ela já havia despencado da altura do céu para a superfície de pedra da terra, por algumas vezes, sendo que dessas várias quedas, uma deixou uma lesão profunda, que nem a dormência e nem a indiferença dos dias, puderam fazer essa adorável, porém frágil menina voltar à paz e a tranquilidade dos ares. 
A verdade é que alguém roubou seu segredo de vôo, alguém levou sua inocência, sua fé no mundo e nas estrelas que brilhavam sobre ela. Ela tem medo de ficar presa em um mundo escuro. Ela morre de medo do escuro, talvez mais até do que de altura. Essa menina só vai conseguir voar, quando ela conceder a sua própria liberdade, indo de encontro ao seu destino, sem hesitar.
E descobriu-se então que o grande mal daquela menina era o mal de não se permitir.
E uma voz de muito longe e com um tom aveludado soprou em seus ouvidos e disse:
- Vá, menina! Agora chegou a sua vez. A hora de cair passou. Agora veio a hora de se levantar. 
E todos se surpreenderam com o que viram daquela menina desse dia em diante. 

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